quinta-feira, 16 de abril de 2009

Caso Clínico - Renata Responde

"Minha cliente diz que adora sexo, mas acha que o namorado não corresponde as expectativas dela. Diz que nos relacionamentos anteriores a forma como conseguia envolver os homens era através da relação sexual, e o mesmo aconteceu com o atual namorado. Está a mais de um ano com ele e diz que não conseguiu se apaixonar por ele pois ele não é "bom de cama". Disse a ele como ela gosta, mas acha que ele faz de maneira mecânica para satisfazê-la e continua não gostando. Por causa da relação sexual que não a satizfaz, sente-se culpada por não amar um homem que tem tudo pra ser um bom marido e um bom pai. (...) O motivo dela não terminar o namoro é que ela se sente sozinha. (ela não tem família, a família dela é a família do namorado). (...) A questão é que não sei mais como ajudá-la!"

Querido (a) anônimo,

Acho muito importante esclarecer alguns pontos, antes de tentar ajudar você a ajudar sua cliente:

1) Troca afetiva: é muito comum que as mulheres, principalmente, atribuam à sexualidade sua mais importante via de troca afetiva e confundem "tesão" com "paixão".

2) Poder e sexualidade: esta cliente em particular se utiliza da sedução sexual para "receber garantias" de que o outro está atraído por ela, sendo assim, quando a sexualidade está em prejuízo, o relacionamento está em prejuízo, fazendo com que ela se sinta insegura e se defenda.

3) Poucas possibilidades: posso observar um caso clássico de controle: "se não é do meu jeito, não é de jeito nenhum" - a cliente em questão (segundo suas informações) aparenta tensão e pouca disponibilidade para experimentar "o jeito que o namorado gosta" e desqualifica a disponibilidade dele de satisfazê-la do jeito que ela diz gostar.

4) Família é uma teia: ela parece ter sido "perfilhada" pela família dele. ATENÇÃO!!! Isso pode deixá-los na condição de irmãos e sexo com irmão (ainda que imaginário) é incesto. Isso pode dificultar muito o desejo.

5) Solidão: estar acompanhada e sentir-se só são duas coisas muito diferentes. Como ela está atribuindo a ele e à sexualidade (ou apaixonamento, no conceito que ela apresenta) a felicidade e realização pessoal de sua auto-estima, ela mesma não sabe "se bastar".

Minhas recomendações são: trabalhe com ela os conceitos pessoais do que é um bom relacionamento, do que ela entende como amor, de como as trocas afetivas acontecem em sua vida e de como ela atrai as pessoas para si.

Lembre-se: aquilo que a gente oferece é aquilo que as pessoas vêm buscar em nós!

Espero ter ajudado.

Beijo, tchau!

13 comentários:

  1. Concordo com algumas coisas, mas com algumas ressalvas, num existem alguns casos onde pessoas da mesma família tenham desejos sexuais uns pelos outros. E concordo muito com o fato de colocar a pessoa como "egoísta" pois não consegue e nem tenta outras formas de tentar ter prazer

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  2. Sim, Victor, existem pessoas que têm desejo por outras da mesma família, mas isso é considerado relação incestuosa do mesmo jeito e para a maioria das pessoas, esse sentimento e o comportamento é considerado socialmente inaceitável, e emocionalmente isso pode causar bloqueios na afetividade.

    Com relação a ela não experimentar outras formas de prazer, não colocaria como "egoismo" e sim como uma limitação emocional por causa do auto-controle. Não existe entrega na forma como ela descreve seu relacionamento, mas pode existir... é só trabalhar a auto-estima dela e os medos de abandono e solidão.

    Obrigada por levantar essa bola pra mim!

    Beijão

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  3. Obrigada Renata! Você ajudou sim e muito!
    Agora tenho mais um caminho pra tentar seguir com ela, pois ela não é uma cliente muito colaborativa! Tem dificuldade de falar sobre o assunto, etc!
    Mais uma vez obrigada e parabéns pela iniciativa!
    Tenho certeza que seu blog vai servir de consulta pra muitos terapeutas!
    beijos

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  4. Imagine, caro anônimo.

    Meu objetivo é esse mesmo... ajudar.

    Qualquer coisa que vc precisar, estou por aqui.

    E eu que agradeço sua contribuição! Foi muito rico para mim poder postar algo útil de verdade.

    Um beijo e volte sempre.

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  5. Oi Rê! Passei aqui pra ver as novidades!Tá ficando bom o negócio!
    Tô gostando de ver a galera interagindo! Como isso enriquece hein!
    Sou sua fã número 1
    beijocas

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  6. A pessoa em questão "adora sexo", mas quais serão as crenças dela sobre uma relação satisfatória? Este é um ponto interessante que pode ser investigado, pois de fato (e o terapeuta deve ter um senso de realidade) é uma situação possível que o namorado não corresponda as expectativas dela, mas também pode ser bem verdade que eles não se encontrem devido à idealizações.
    Outra questão que me chamou atenção foi o fato da cliente afirmar que envolveu o cara, assim como outros homens, através da relação sexual... Ok, nada contra ou a favor, mas por quê será que ela acredita que esta via é o que ela tem como apelo para um relacionamento onde a mesma parece querer construir uma estória de companheirismo, um bom futuro marido, um bom pai... etc e tal?

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  7. A questão pode ser vista, também, pelo ponto de vista onde, em nossa sociedade, nos tornamos tão sexistas, tão necessitados de afirmar nossa sexualidade, seja ela qual for, que sempre é possível pensar que se pode cativar, ou prender, alguém através do sexo.

    Mas.., somos humanos né? Ou não?

    Beijos a todos, em especial a dona deste espaço,

    Bruno Daesse

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  8. Pois é, Dani, pontos muito importantes esses que vc e Bruno (eita maridinho suportivo... rs) levantaram.

    Os conceitos pessoais, crenças e introjeções sobre o que satisfaz ou sobre o que é ideal para cada um são construídos e apreendidos nas experiências, ao longo da vida da pessoa, mas se ela não se permite experimentar nada diferente, instala-se a neurose.

    Repetir o mesmo padrão advém da falta de auto-confiança para fazer diferente e o caso em discussão demosntra que a cliente em questão sente que tem pouco a oferecer em uma parceiria afetiva, já que parece acreditar que a sedução sexual é a parte mais "garantida" de um relacionamento amoroso.

    Genteeeeeeee, vcs estão me deixando louca!!! Eu não podia estar mais feliz com a riqueza das discussões, a qualidade das opiniões e a presença de vcs!!!

    Obrigadaaaaaaaa!!!!

    Beijo, tchau!

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  9. Rê, a respeito desse caso não seria o caso dessa cliente ter uma conversa com o seu namorado e expor todas as suas dúvidas, críticas e etc...Será que qdo a gente lida com nossos sentimentos encarando-os de frente e mostrando ao outro todas as nossas possibilidds, não fica mais fácil??? Sexo é muito bom e se ela o atraiu no inicio por isso, como ele perdeu tanto o interesse? O que foi feito do interesse inicial??? Aonde começou a dar errado??? Pq as mulheres se culpam de gostar de sexo??? Pq não falar abertamente ao parceiro sobre tudo o que está sentindo??? Pq tanta culpa??? Outra coisa... envolvar um homem pelo sexo com companheirismo não existe??? Pq as mulheres sempre separam sexo de amor e companheirismo... os dois não podem estar juntos??? Já que ele pode ser um bom pai e companheiro, pq não um diálogo franco e quem sabe uma transformação na cama não acontece??? Chega de "mulheres" viver de migalhas... Sexo é tudo de bom, basta saber se expressar e conversar com o parceiro de igual pra igual... Bem é isso que eu tinha pra falar... bjs e td de bom, Rê.... te amooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

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  10. Linda a sua contribuição.

    Concordo que a culpa e o dividir sentimentos é o que está deixando essa relação sem interesse, mas acho mesmo que o problema da moça em questão é que ela está controlando seu afeto. Não se entrega. Parece ter medo de ser feliz, pq recebe o que pede e nem isso é suficiente para ela.

    É como aquelas pessoas que dizem "eu quero que vc me dê flores, mas as suas flores só têm valor se vc quiser me dar as flores, não se vc quiser me agradar". Neurose, amiga, é assim mesmo... rsss

    Beijocaaaaaaaaaa

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  11. Adorei essa via de trocas... muito bom...bjs e um ótimo feirado pra vcs!!!! (Rê e Bruno)... bjkinhas Sissi (sabia que é assim que meu amor me chama?)... adorei!!!

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  12. Rê vim aqui falar justamente sobre a questão da repetição de padrões que você mesma disse. Devido à falta de confiança, do medo de mudar(provocado por falsas fantasias) e o fato da pessoa não enxergar outras possibilidades, outros caminhos para lidar com a questão ou com o problema, ela bate nas mesmas teclas diversas vezes, instaurando uma série de comportamentos repetitivos, porque só conhece aquele mesmo padrão, aquela mesma forma de agir. Acredito também que trabalhar com suas fantasias e introjeções seja um bom caminho inicial.

    Isso aqui tá bombando hein?! rss. Parabéns! Beijocas!

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  13. OiRenata,
    Achei seu blog muito interessante. Aproveito a oportunidade para levantar uma reflexão.

    Sobre o tema de sexualidade discute-se muito tbm sobre homosexualidade. levantando-se a informação de que a homossexualidade não é mais uma opção sexual ou preferência sexual e sim uma orientação sexual.
    Refletindo então, na visão de um estudioso em psicologia, o que se pode abordar quando se discute sobre "o que é a homossexualidade" ou "o que se pode transcrever sobre a homossexualidade"...

    Gostaria de lhe deixar esta pergunta/reflexão....

    Abraços,
    Michele.

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