terça-feira, 28 de abril de 2009

A Mãe de Todas as Dores

Quem será que pariu as dores?

Tem que ter sido uma dor emocional.

Não é por eu ser Psicóloga e estar acostumada a lidar com dores emocionais todos os dias não! É por eu saber que sentir e não entender o que se sente dói mais do que doer no corpo.

É por isso que eu tenho uma leve desconfiança de que a mãe de todas as dores é a dúvida.

Dúvida sobre o amanhã, dúvida sobre o hoje.

A dúvida é cinza, é nem lá, nem cá.

É um não saber que gera todo tipo de insegurança e medo, e medo gera instabilidade, desassossego.

Vendo as vidas e não sabendo aonde vão, vendo o mundo e não sabendo como curá-lo, sinto medo. Depois, a dor.

Tantas vidas doloridas, tantas dores que viram atos de violência, tanta violência que gera mais dor e mais medo, tanto medo que gera pânico, tanto pânico que gera isolamento, tanto isolamento que gera solidão... tanta solidão que dói.

É, acho mesmo que a mãe de todas as dores é a dúvida que gera o medo.

Mãe maldita! Por que você tinha que parir um filho tão feio e tão fértil?

Tanta gente querendo ser mãe e justamente você foi ter essa sorte!?

Agora vá parir outra dúvida! Não uma dúvida cinza, mas uma cor de rosa! Uma dúvida de um não saber sem medo, uma dúvida que me diga que já que eu não sei, melhor arriscar, melhor não ter medo de sofrer, melhor não ter medo de encarar, melhor SENTIR!

Vá parir, mãe fértil, que eu te ajudo. Não tenha medo. Não duvide.


(Renata Escarlate, 16/04/2009)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sexualidade e fé cristã

Olá Renata!
Vivo um dilema... sou evangélica, tenho 32anos, divorciada há 5 anos. Apesar de pertencer à uma igreja renovada, ou seja, não-tradicional, ela tem suas doutrinas baseadas e firmadas na bíblia.

Vivemos num mundo onde os relacionamentos hoje são um "pré-casamento": você prova primeiro pra ver se gostou, se tem afinidade e a famosa "química".
No caso da religião que sigo, segundo os preceitos bíblicos isto não é correto aos olhos de Deus.

Já fui casada, gosto muito do "esporte", porém vivo esse conflito principalmente quando me relaciono com pessoas que não seguem a mesma "religião" que eu.
E agora? como saio dessa sinuca? Como ter vida em santidade conforme recomenda a bíblia e como me satisfazer enquanto pessoa? (anônimo)

Quando li este comentário, confesso que cocei minha cabeça e fiquei pensando: "Vai dar problema!" (rsss), mas como a proposta deste blog é ajudar as pessoas e debater os temas que VOCÊS trazem, resolvi que tinha um compromisso com meus leitores de responder e tentar audar a essa pessoa.

Gostar do esporte... adorei essa parte! Ainda bem que você gosta, né, gata! Porque tem muuuuuita gente que não gosta e isso mostra o quanto você é saudável.

Parte boa concluída, vamos à parte difícil: conheço um pouquinho o protestantismo e compartilho de váááárias idéias da fé cristã protestante, bem como a católica. O que vou dizer aqui diz respeito ao meu ponto de vista filosófico, acerca da sexualidade cristã.

ATENÇÃO: NÃO ESTOU PREGANDO CONTRA NEM A FAVOR DA FÉ ALHEIA!!! NÃO TENHO NENHUM INTERESSE EM DILAPIDAR CONVICÇÕES - SÓ ESTOU RESPONDENDO À PERGUNTA QUE ME FOI FEITA!!!

Eu consigo compreender que algumas pessoas possam escolher manter relações sexuais apenas após o casamento, mas não vejo muita saúde nisso, do ponto de vista psicológico. Acredito, como profissional, que seja muito importante saber com quem você está se envolvendo, antes de estabelecer um vínculo mais profundo com essa pessoa. Você não conta seu maior segredo ao seu amigo só depois que ele assina um termo de compromisso "anti-fofoca", não é?

Da perspectiva filosófica, o que me intriga são os interesses por trás dessa doutrina: ela só gera ansiedade e comportamentos disfuncionais - ou as pessoas saem casando às pressas, ou ficam desesperadas para casar, ou transam e morrem de culpa, o que mais tarde, é claro, vai transformar a sexualidade da pessoa em um grande tormento.

Mas o que mais me intriga é: nos tempos Bíblicos não havia, por exemplo, cartório. Mas as pessoas se casavam, não é? As mulheres não podiam falar em público, nem usar calças, nem trabalhar fora. Não se usava método contraceptivo porque este não existia. Poucas pessoas eram alfabetizadas e as que eram tinham esse direito por serem ricas. Não existia democracia, só monarquias e governos de províncias. As roupas eram feitas de estopa, linho ou aniagem. As sandálias eram simples. Um convidado estimado tinha seus pés lavados. etc.

Quais dessas coisas acontecem hoje? É pecado usar roupa bonita ou sandália cara? E se eu não lavar os pés do zelador do meu prédio quando ele me traz correspondência? Eu o estimo, mas não quero lavar seus pés. Quão grave é meu crime? Ih, eu sou mulher e sei ler e escrever e várias mulheres estão lendo isso agora! Haram! (pecado em árabe)

Estou brincando assim para descontrair mesmo, mas meu objetivo é mostrar que as doutrinas bíblicas foram contextualizadas, naquilo que era interessante, mas abomina este tipo de questionamento.

O casamento é sagrado sim e a família também, mas o que quero dizer é que até o divórcio a igreja protestante aceita, como você bem sabe, querida leitora, e acho isso louvável, mas com discrição, acho que sua vida sexual pertence somente a você.

Não vejo como Deus possa amaldiçoar o melhor "esporte" que Ele criou.

Espero ter ajudado.

Beijo, tchau!

Amor, Rê

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O que é Gestalt-terapia - parte 1

Gestalt-terapia (ou sem o hífen, após a droga da reforma ortográfica) é um conjunto de teoria, metodologia técnica e filosofia que uniu o melhor da Psicologia ao melhor das filosofias orientais.



Tá bom, tá bom, eu sou apaixonada por Gestalt-terpia, ou GT, como a gente costuma chamar, mas objetivamente (ou tentando ser objetiva), quando digo que a GT une o melhor dos conceitos teóricos, técnicos e filosóficos da Psicologia não quero dizer que a GT é melhor do que as outras abordagens psicológicas, não! Só aproveitou o melhor das teorias e técnicas psicológicas porque é uma abordagem "aberta", contextualizada, cujo conceito central abarca a maior parte dos conceitos psicológicos existentes.



O ponto central da GT é a busca da "melhor forma possível": a GT trabalha com as potencialidades das pessoas, buscando o melhor lado delas, o contato com suas qualidades e forças, para a partir delas conquistar aquilo que desejam ou precisam da melhor forma possível, ou seja, de acordo com o que a pessoa pode, aproximá-la de seu ideal de equilíbrio.



Outra parte muito importante do trabalho da GT é a questão temporal: como todos nós sabemos, ou deveríamos saber, só o presente é real. O passado é uma lembrança e o futuro uma fantasia. Quaisquer dores do passados ou ansiedades acerca do futuro só podem ser endereçadas no presente, como incômodos desatualizados (e a partir das potencialidades) que devem ser trabalhados com doçura e acolhimento, mas sempre na direção do equilíbrio, do alívio.



Isso se faz através de outros dois conceitos muito importantes: contato e figura-fundo.



Contato é uma conexão genuína, não um estar com, mas um sentir-pensar-agir coerente. Contato é o equilíbrio entre essas três forças, em uma relação, seja da pessoa com o mundo externo a ela, seja da pessoa consigo mesma.



Relação figura-fundo: a relação figura fundo diz respeito ao mundo emocional-perceptivo de cada pessoa. Figura é aquilo que se destaca do fundo (pode ser uma experiência, uma sensação, uma emoção, um sentimento, uma dor, um pensamento), chamando a atenção para uma necessidade emergente, algo que precisamos ou desejamos resolver.



Já o fundo é o nosso "mundo inteiro": todas as nossas emoções, pensamentos, conceitos, sentimentos, experiências, valores, crenças... tudo o que apreendemos e vivemos compõe o nosso fundo. É como uma forma de inconsciente, mas muito ampliado, inclusive porque pode ser acessado a qualquer momento ou evocado por um estímulo externo, não necessariamente rememorado, mas faz parte de todas as relações figurais, já que a figura emerge do fundo, mas nunca se destaca dele.



A relação figura-fundo é um campo de forças, onde o fluir da energia entre um e o outro é quem determina o equilíbrio do ser humano.








Esta ilustração é um exemplo sempre utilizado para demonstrar a relação figura-fundo. Ela pode ser vista como uma taça ou pode ser vista como dois rostos humanos próximos, ou ainda como duas pessoas prontas a se beijar. Tudo depende da relação que cada um estabelece com a figura.


Para que eu não me alongue demais, o que vocês acham de eu explicar as utilizações práticas da GT em outro post? Acho que se eu continuar por aqui, ou vocês morrem de tédio ou ninguém lerá o post até o fim... rsss


Respondi um pouquinho a sua pergunta, Victor?


Por hoje, é só... logo, logo tem mais.


Beijo, tchau!


quinta-feira, 16 de abril de 2009

Caso Clínico - Renata Responde

"Minha cliente diz que adora sexo, mas acha que o namorado não corresponde as expectativas dela. Diz que nos relacionamentos anteriores a forma como conseguia envolver os homens era através da relação sexual, e o mesmo aconteceu com o atual namorado. Está a mais de um ano com ele e diz que não conseguiu se apaixonar por ele pois ele não é "bom de cama". Disse a ele como ela gosta, mas acha que ele faz de maneira mecânica para satisfazê-la e continua não gostando. Por causa da relação sexual que não a satizfaz, sente-se culpada por não amar um homem que tem tudo pra ser um bom marido e um bom pai. (...) O motivo dela não terminar o namoro é que ela se sente sozinha. (ela não tem família, a família dela é a família do namorado). (...) A questão é que não sei mais como ajudá-la!"

Querido (a) anônimo,

Acho muito importante esclarecer alguns pontos, antes de tentar ajudar você a ajudar sua cliente:

1) Troca afetiva: é muito comum que as mulheres, principalmente, atribuam à sexualidade sua mais importante via de troca afetiva e confundem "tesão" com "paixão".

2) Poder e sexualidade: esta cliente em particular se utiliza da sedução sexual para "receber garantias" de que o outro está atraído por ela, sendo assim, quando a sexualidade está em prejuízo, o relacionamento está em prejuízo, fazendo com que ela se sinta insegura e se defenda.

3) Poucas possibilidades: posso observar um caso clássico de controle: "se não é do meu jeito, não é de jeito nenhum" - a cliente em questão (segundo suas informações) aparenta tensão e pouca disponibilidade para experimentar "o jeito que o namorado gosta" e desqualifica a disponibilidade dele de satisfazê-la do jeito que ela diz gostar.

4) Família é uma teia: ela parece ter sido "perfilhada" pela família dele. ATENÇÃO!!! Isso pode deixá-los na condição de irmãos e sexo com irmão (ainda que imaginário) é incesto. Isso pode dificultar muito o desejo.

5) Solidão: estar acompanhada e sentir-se só são duas coisas muito diferentes. Como ela está atribuindo a ele e à sexualidade (ou apaixonamento, no conceito que ela apresenta) a felicidade e realização pessoal de sua auto-estima, ela mesma não sabe "se bastar".

Minhas recomendações são: trabalhe com ela os conceitos pessoais do que é um bom relacionamento, do que ela entende como amor, de como as trocas afetivas acontecem em sua vida e de como ela atrai as pessoas para si.

Lembre-se: aquilo que a gente oferece é aquilo que as pessoas vêm buscar em nós!

Espero ter ajudado.

Beijo, tchau!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Oi, geeeeeente!!!!

Queridos amigos,

Finalmente desenvolvi meu próprio espaço!

Aqui é a minha casa!

Recebo a cada um de vocês com carinho e amor e espero, sinceramente, que esse seja um espaço de troca muito dinâmica e genuína entre mim e todos vocês.

Nesta primeira postagem decidi listar minhas expectativas, para que possamos criar um vínculo baseado nessa troca mesmo.

1) Quero muito saber quais são as dúvidas de cada um sobre sexualidade e gestalt-terapia - e para isso liberei a lista de comentários anônimos e deixei meu e-mail pessoal aberto para visualização.

2) Quero muito saber as opiniões de vocês sobre o que estou escrevendo, por isso COMENTEM, e assim vou me sentir estimulada a continuar o trabalho.

3) Não é permitido mentir, nem concordar só pra me agradar. Quero debater... e isso significa que eu quero (e preciso, como pesquisadora) saber a opinião sincera de vocês!

4) Pretendo, além das postagens relacionadas ao tema da saúde sexual e Gestalt-terapia, compatilhar com vocês minhas leituras pessoais, comentando os livros que tenho lido, uma vez que acho importantíssimo não só para os Psicólogos e Terapeutas acumular cultura literária, mas compartilhá-la e saber opinar sobre o assunto.

5) SUGESTÕES SÃO MAIS DO QUE BEM-VINDAS!!! Sempre que quiserem, usem esse espaço para pedir temas, promover debates e discutir opiniões, como eu disse, "aqui é minha casa" e quero recebê-los como anfitriã digna, do mesmo jeitinho que gosto de receber meus amigos em minha casa de verdade.

No mais, quaisquer mudanças de regras ou novas informações, prometo deixar todas claras.

De minha parte me comprometo a ser sempre sincera, responder a todos o mais brevemente possível e buscar as informações das quais não dispuser.

Vamos em frente!

E sejam mesmo, muito bem vindos.

Muitos beijos, Rê