Eu ando muito preocupada com o futuro da comunicação e dos relacionamentos humanos.
De acordo com a Abordagem Gestáltica, o ser humano só pode ser compreendido a partir de seus relacionamentos, suas interações, suas trocas. E como bem podemos concluir, a base de todo relacionamento é a comunicação, ou seja a capacidade expressiva e a disponibilidade de cada indivíduo de se colocar em relação.
É através da comunicação que oferecemos nossos conteúdos e recebemos o que aquele ou aquilo com quem nos relacionamos tem para nos oferecer. Utilizamos nossos 5 sentidos, movimento e fala para entrar em um contato, mas também são esses mesmos recursos que utilizamos para interromper qualquer contato – especialmente se este contato não for proveitoso ou for ameaçador.
Em uma breve explicação, é assim que nascem as “disfunções de contato”: as interrupções que a princípio serviam para nos proteger de um contato indesejado, tornam-se ferramentas de uso constante em diversas formas de contato, à mínima semelhança com aquele contato que foi necessário interromper em um primeiro momento.
Dito isso, é a este ponto que entra em cena minha preocupação com o futuro dos relacionamentos: vejo, a cada dia, um empobrecimento sistemático no vocabulário das pessoas e, consequentemente, observo, com certa constância, o que deveria ser forma expressiva tornar-se interrupção de contato. Trocando em miúdos: a fala (e o vocabulário) que deveria ser usado para comunicar algo, pode ser (e vem sendo) utilizada para distrair e até irritar o interlocutor. E observo este padrão, principalmente, quando aquele que comunica tenta fazer com que sua fala fique parecendo mais “elaborada” do que efetivamente ou necessariamente seria para uma comunicação eficaz.
Alguns exemplos disso (e meus favoritos) são o uso indiscriminado das palavras “então”, “enfim”, da expressão “a nível de” , a outra expressão favorita da juventude de hoje: “tipo assim” e daquilo que os especialistas em lingüística chamam de “gerundismo”.
A palavra “então” e a palavra “enfim”, que vêm sendo usadas para oferecer ao locutor um tempo adicional para pensar (só posso concluir isso quando alguém começa a responder a um pergunta com “Então...” ou tenta concluir um pensamento com “Enfim...”) são, na verdade, advérbios de tempo, ou seja, deveriam ser utilizados para indicar um momento ou situação fora do presente.
Eu fico pensando: será que este fenômeno é fruto da falta de contato com o presente, em nossa sociedade? Será que estamos vivendo em tempos de enfim e então?
Outro fenômeno lingüístico é o “a nível de”. Vai querer falar bonito assim lá em casa! Elaborando um pensamento que não é o simples “comparado com”, mas sim um nivelamento subjetivo que demonstra uma comparação mais, digamos assim, erudita. O único problema é que “a nível de” está errado, do ponto de vista lingüístico, em todas as circunstâncias. Sendo assim, “a nível de falar bonito”, fale corretamente e se comunique! Isso é que é bonito de verdade.
Existe ainda a expressão que complica mas não explica, e talvez por isso seja a mais utilizada entre os jovens: “tipo assim”. Meu pensamento viaja com essa expressão. “Tipo assim”, especialmente quando substitui uma frase inteira (“Cara, é tipo assim, você sabe!”), não explica absolutamente nada, mas reflete um desinteresse quase absoluto em dar satisfações ou explicações. Pode refletir uma certa preguiça em elaborar um pensamento, mas, definitivamente, exclui o interlocutor do campo dos pensamentos e sentimentos do locutor. De repente é isso mesmo: interrompendo o contato dessa forma, não se precisa violar a preciosa privacidade de quem comunica (ou esconde). O problema é que o “tipo assim” ou o seu irmão menor, o “tipo”, viraram uma espécie de cacoete e se tornam verdadeiras vírgulas, na fala de muita gente.
Outra interrupção de contato – pelo menos comigo, interrompe mesmo – é aquilo que os especialistas em lingüística chamam de “o fenômeno do gerundismo”. É isso mesmo: o sufixo “ismo” é referente a doença e o gerundismo se prolifera como um vírus. Há quem diga que é um fenômeno resultante da necessidade de formalização vocabular dos operadores de telemarketing, mas eu, na mesma linha de pensamento que venho seguindo, acredito que a criação lingüística de um “futuro do presente no gerúndio” só pode comunicar uma falta de contato com o presente bastante sintomática. “Eu vou estar fazendo...” comunica tanto que não estou fazendo quanto que não vai ser simples fazer: eu não vou simplesmente fazer, eu vou estar fazendo, naquele momento de tempo que será o presente, em que o meu estado será fazer. Complicado? Que nada! É só não fazer... é estar fazendo, um dia, então, tipo assim, enfim.
Todas essas formas de má utilização das palavras me levam a concluir que o comportamento e as relações estão em maus lençóis, uma vez que podemos observar que quem fala não está em contato com aquele a quem fala.
“Tipo assim”, eu acredito que quanto mais pobre for o vocabulário e a capacidade expressiva de uma pessoa, mais pobre é seu pensamento e menos questionamentos ela pode gerar. Dessa forma, vocabulário pode sim se tornar uma forma de controle social: “emburrecendo” as pessoas, consigo fazer com que elas acreditem e aceitem o que vier.
“A little less conversation” é uma canção de meu querido Elvis Presley, cujas primeiras linhas dizem “Um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação, por favor”. Vou trocar “ação” por “contato”. Por isso, que tal falarmos um pouco menos e fazermos um pouco mais de contato?
Beijo, tchau!
PS.: Um texto muito bom que encontrei em minhas pesquisas para este post foi:
http://br.answers.yahoo.com/question/index;_ylt=AqIPL8D617egku_pilAOUQbx6gt.;_ylv=3?qid=20090326084709AAo2ijJ
De acordo com a Abordagem Gestáltica, o ser humano só pode ser compreendido a partir de seus relacionamentos, suas interações, suas trocas. E como bem podemos concluir, a base de todo relacionamento é a comunicação, ou seja a capacidade expressiva e a disponibilidade de cada indivíduo de se colocar em relação.
É através da comunicação que oferecemos nossos conteúdos e recebemos o que aquele ou aquilo com quem nos relacionamos tem para nos oferecer. Utilizamos nossos 5 sentidos, movimento e fala para entrar em um contato, mas também são esses mesmos recursos que utilizamos para interromper qualquer contato – especialmente se este contato não for proveitoso ou for ameaçador.
Em uma breve explicação, é assim que nascem as “disfunções de contato”: as interrupções que a princípio serviam para nos proteger de um contato indesejado, tornam-se ferramentas de uso constante em diversas formas de contato, à mínima semelhança com aquele contato que foi necessário interromper em um primeiro momento.
Dito isso, é a este ponto que entra em cena minha preocupação com o futuro dos relacionamentos: vejo, a cada dia, um empobrecimento sistemático no vocabulário das pessoas e, consequentemente, observo, com certa constância, o que deveria ser forma expressiva tornar-se interrupção de contato. Trocando em miúdos: a fala (e o vocabulário) que deveria ser usado para comunicar algo, pode ser (e vem sendo) utilizada para distrair e até irritar o interlocutor. E observo este padrão, principalmente, quando aquele que comunica tenta fazer com que sua fala fique parecendo mais “elaborada” do que efetivamente ou necessariamente seria para uma comunicação eficaz.
Alguns exemplos disso (e meus favoritos) são o uso indiscriminado das palavras “então”, “enfim”, da expressão “a nível de” , a outra expressão favorita da juventude de hoje: “tipo assim” e daquilo que os especialistas em lingüística chamam de “gerundismo”.
A palavra “então” e a palavra “enfim”, que vêm sendo usadas para oferecer ao locutor um tempo adicional para pensar (só posso concluir isso quando alguém começa a responder a um pergunta com “Então...” ou tenta concluir um pensamento com “Enfim...”) são, na verdade, advérbios de tempo, ou seja, deveriam ser utilizados para indicar um momento ou situação fora do presente.
Eu fico pensando: será que este fenômeno é fruto da falta de contato com o presente, em nossa sociedade? Será que estamos vivendo em tempos de enfim e então?
Outro fenômeno lingüístico é o “a nível de”. Vai querer falar bonito assim lá em casa! Elaborando um pensamento que não é o simples “comparado com”, mas sim um nivelamento subjetivo que demonstra uma comparação mais, digamos assim, erudita. O único problema é que “a nível de” está errado, do ponto de vista lingüístico, em todas as circunstâncias. Sendo assim, “a nível de falar bonito”, fale corretamente e se comunique! Isso é que é bonito de verdade.
Existe ainda a expressão que complica mas não explica, e talvez por isso seja a mais utilizada entre os jovens: “tipo assim”. Meu pensamento viaja com essa expressão. “Tipo assim”, especialmente quando substitui uma frase inteira (“Cara, é tipo assim, você sabe!”), não explica absolutamente nada, mas reflete um desinteresse quase absoluto em dar satisfações ou explicações. Pode refletir uma certa preguiça em elaborar um pensamento, mas, definitivamente, exclui o interlocutor do campo dos pensamentos e sentimentos do locutor. De repente é isso mesmo: interrompendo o contato dessa forma, não se precisa violar a preciosa privacidade de quem comunica (ou esconde). O problema é que o “tipo assim” ou o seu irmão menor, o “tipo”, viraram uma espécie de cacoete e se tornam verdadeiras vírgulas, na fala de muita gente.
Outra interrupção de contato – pelo menos comigo, interrompe mesmo – é aquilo que os especialistas em lingüística chamam de “o fenômeno do gerundismo”. É isso mesmo: o sufixo “ismo” é referente a doença e o gerundismo se prolifera como um vírus. Há quem diga que é um fenômeno resultante da necessidade de formalização vocabular dos operadores de telemarketing, mas eu, na mesma linha de pensamento que venho seguindo, acredito que a criação lingüística de um “futuro do presente no gerúndio” só pode comunicar uma falta de contato com o presente bastante sintomática. “Eu vou estar fazendo...” comunica tanto que não estou fazendo quanto que não vai ser simples fazer: eu não vou simplesmente fazer, eu vou estar fazendo, naquele momento de tempo que será o presente, em que o meu estado será fazer. Complicado? Que nada! É só não fazer... é estar fazendo, um dia, então, tipo assim, enfim.
Todas essas formas de má utilização das palavras me levam a concluir que o comportamento e as relações estão em maus lençóis, uma vez que podemos observar que quem fala não está em contato com aquele a quem fala.
“Tipo assim”, eu acredito que quanto mais pobre for o vocabulário e a capacidade expressiva de uma pessoa, mais pobre é seu pensamento e menos questionamentos ela pode gerar. Dessa forma, vocabulário pode sim se tornar uma forma de controle social: “emburrecendo” as pessoas, consigo fazer com que elas acreditem e aceitem o que vier.
“A little less conversation” é uma canção de meu querido Elvis Presley, cujas primeiras linhas dizem “Um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação, por favor”. Vou trocar “ação” por “contato”. Por isso, que tal falarmos um pouco menos e fazermos um pouco mais de contato?
Beijo, tchau!
PS.: Um texto muito bom que encontrei em minhas pesquisas para este post foi:
http://br.answers.yahoo.com/question/index;_ylt=AqIPL8D617egku_pilAOUQbx6gt.;_ylv=3?qid=20090326084709AAo2ijJ